domingo, 20 de julho de 2008

E chamam-lhe serviço público

Abençoada que fui com o nascimento da minha filha neste verão quente, dei comigo à sombra de casa, a assistir ao programa da RTP em directo da Praça Marquês de Pombal, que poderia ter sido uma excelente oportunidade de promover a terra e as gentes de cá, a partir daqui para o mundo inteiro. A verdade que as longas horas de emissão - que havemos de pagar, nós todos - revelaram-se aquilo de que já suspeitava: uma montra da feira de vaidades em que está transformado o Bodo deste ano, aqui e ali ofuscada pela triste imagem da populaça que vibra com os gritinhos saltitantes de João Baião e os olhares pseudo-matadores de Sónia Araújo. É o serviço público, dizem eles. E o público aplaude, sem saber muito bem o quê.Salva-se no meio deste quadro a vida que volta à praça, tão injustamente despovoada de tudo e de todos. Nem que seja por umas horas, há vida na praça outra vez e isso é bom.Sabendo o quão rica é a história de Pombal e das festas do Bodo, era de esperar que ali se desse a vez e a voz às tantas figuras - felizmente ainda vivas - que sabem contá-la. É claro que continuaria a haver espaço para o nosso João Faria e seus sete ofícios. Para sabermos o que manda a Pombal Viva e seu administrador, em tempo de vacas magras que Pombal ilude com este cartaz de luxo- que havemos de pagar, nós todos. E até, vá lá, para ouvirmos falar dos 9 km de costa que nunca podem faltar em discurso autárquico. Mas tinhamos a obrigação de mostrar ao país e ao mundo que há mais vida para além do Bodo, e que, mesmo esse, existiu antes de 2008 e desta organização à la rock in rio arunca. A obrigação, o dever e o direito - digo eu, já que não há programas de borla. Não sei quem fez a "selecção de pessoal" para as entrevistas promocionais. Mas sei que isto não é serviço público. É antes colocar os meios que nós pagamos ao serviço de um determinado público.Não percebi por que razão deslocaram Nelson Pedrosa (um exemplo de interesse e dedicação à investigação histórica e cultural) para a praça de toiros de Abiul, ao invés de o vermos e ouvirmos na praça. Lembrei-me de um programa da TSF, vai para uns 8 anos talvez, cujo conteúdo faria corar de vergonha este programa de entretenimento brejeiro. Sobraram pernas e bailarinas num espaço tão nobre. A tela gigante, que tapava as misérias dos prédios devolutos, como quem varre o lixo e o esconde debaixo do tapete, era também ela o cartaz do Bodo. Algumas caras de lá vieram a terreiro promover os cafés Mambo, a Câmara e o João Vila Verde na mesma frase. Rita Guerra fê-lo muito bem. Ana Malhoa idem, ao ponto de se "sentir em casa", como disse. Às vezes nós é que não nos sentimos, tal a usurpação que nos fazem dos valores, em troca de outros que mais alto se levantam.
O resto foi música.
(também publicado no Farpas)

2 comentários:

Professor

Tenho visto quase todos os Verões Totais, transmitidos de outras terras portuguesas. Terras vivas, Terras que têm alguma coisa para mostrar. Nós também temos mas nada se viu, por causa da cortina de fumo publicitária do BODO/FESTIVAL/PIMBA/ROCKEIRO 2008. Foi dos programas mais pobres do Verão Total.

Paula Sofia Luz

Concordo consigo. Também eu enho visto (pelas razões já explicadas...) e é por isso que faço a comparação. Também.

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